O Olhar Caboclo de Antonio Siqueira é um site que homenageia a vida e a obra de Antonio Siqueira, um dos mais sensíveis fotógrafos matogrossenses que infelizmente nos deixou precocemente em 2021. Antonio Siqueira é natural de Rosário Oeste e aprendeu a arte da fotografia sozinho. Desde a década de 1980 desenvolveu sua técnica mirando suas lentes no cotidiano de Rosário Oeste e em toda a riqueza cultural das cidades da Baixada Cuiabana.
Atuando como um documentarista da vida cotidiana, Antonio foi um cronista do tempo diligente da sua terra natal e das comunidades rurais que cercam esse que é um dos maiores municípios do estado de Mato Grosso e um dos berços de cultura popular do estado. Os personagens de Antonio foram o pescador ribeirinho, as elegantes senhoras com suas sombrinhas multicoloridas, os agricultores, comerciantes, cururueiros, vaqueiros, quituteiras e tantos outros artífices do tempo da vida de sua cidade. Outro ponto de especial atenção do fotógrafo foi a relação do povo com a fé.
Há em seu acervo séries de imagens de oratórios e da decoração simples das casas do campo, imagens de festas de santo, das violas de cururu, vaquejadas, preparativos culinários como o biscoito de polvilho, a socata, as procissões, ladainhas, entre outras cenas primorosas. Em 2021, esse recorte de seu trabalho foi objeto da exposição Santos da Baixada, realizada em parceria com o fotógrafo, primo e pesquisador de sua obra Luzo Reis.
Antonio Siqueira e seu olhar caboclo
Com a evolução tecnológica, hoje é possível a praticamente todas as pessoas o acesso a fotografia. Certamente que os celulares e as redes sociais ampliaram as possibilidades de construção de narrativas pessoais através da fotografia. Antes, contudo, havia nas cidades a figura dos “retratistas”, fotógrafos que com seus pequenos estúdios produziam as fotos da comunidade. Alguns deles se interessavam também pelo registro da vida urbana e sua cultura. Realizaram assim testemunhos valiosos para nossa memória coletiva. Lázaro Papazian (1907-1991) é uma das grandes referências no estado.
Podemos dizer que Antonio foi um descendente dessa linhagem de narradores visuais que compuseram um panorama urbano próprio através da imagem fotográfica. Siqueira foi o retratista que já fotografou todas as personalidades de Rosário Oeste inúmeras vezes: a benzedeira “Chamila”, o mestre cururueiro Damião, a ceramista dona Eugênia, os irmãos sapateiros Nholindo e Adelino, o lojista Paulo Miranda, o fótografo social Alírio Pires, Dona Liberata: a queridinha da cidade ou “o anjo que andava pelas ruas”, como se dizia. Essas e tantas outras pessoas que pelas lentes de Antonio se tornaram personagens da grande história que constitui nossa cultura popular.
Sempre com sua câmera a tiracolo, suas fotos surgiam muitas vezes de um papo na praça, de uma dose de amargo do bar do Juva, do encontro com os pescadores no rio Cuiabá, da visita de fim de tarde a dona Eugênia ou ao mestre Damião. Essa estratégia, aliás, é uma das chaves da originalidade de sua obra. Ao contrário de certa tradição documental que por vezes lançou um olhar exótico aos seus objetos, a fotografia de Antonio é carregada de familiaridade, de pertencimento.
É por isso que suas imagens não testemunham apenas aqueles objetos e pessoas que vemos ali, mas dizem muito sobre o olhar cuidadoso, sensível e orgulhoso de tudo o que via em sua terra de seu autor. Suas imagens são, assim, não apenas sobre a vida da sua cidade e região, mas são testemunhas de um jeito de olhar: o olhar caboclo de Antonio Siqueira.
Luzo Reis
Antonio Siqueira Mestre da Cultura
Em 2021, a Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso lançou o Edital Mestres da Cultura que tinha o objetivo de premiar expoentes da nossa cultura popular. Nessa ocasião propusemos o nome de Antonio para apreciação e como produtos a realização de uma exposição e um livro catálogo sobre sua obra. Infelizmente não conseguimos aprovar o projeto, mas criamos um registro audiovisual importante em que o fotógrafo conta um pouco sobre suas imagens e sua trajetória: